Como o dilema do Triffin afeta as moedas
Previsão do dólar de Robert Triffin
Em outubro de 1959, um professor de Yale sentou-se diante do Comitê Econômico Conjunto do Congresso e anunciou calmamente que o sistema de Bretton Woods estava condenado. O dólar não poderia sobreviver como moeda de reserva mundialsem exigir que os Estados Unidos incorressem em déficits cada vez maiores. Esse triste cientista era o belga Robert Triffin, e ele estava certo. O sistema de Bretton Woods entrou em colapso em 1971, e hoje o papel do dólar como moeda de reserva faz com que os Estados Unidos tenham o maior déficit em conta corrente do mundo.
Durante grande parte do século 20, o dólar americano foi a moeda escolhida. Os bancos centrais e os investidores compraram dólares para manter como reservas cambiais, e por um bom motivo. Os Estados Unidos tinham um clima político estável, não sofreram as devastações das guerras mundiais como a Europa, e tinham uma economia em crescimento constante, grande o suficiente para absorver os choques.
Principais vantagens
- Robert Triffin acreditava que o dólar não poderia sobreviver como moeda de reserva mundial sem exigir que os Estados Unidos incorressem em déficits cada vez maiores.
- Uma moeda de reserva popular eleva sua taxa de câmbio, o que prejudica as exportações do país emissor de moeda, levando a um déficit comercial.
- Um país que emite uma moeda de reserva deve equilibrar seus interesses com a responsabilidade de tomar decisões monetárias que beneficiem outros países.
- Outra moeda de reserva em substituição ao dólar aumentaria os custos dos empréstimos, o que poderia impactar a capacidade dos Estados Unidos de pagar a dívida.
- Um novo sistema monetário internacional poderia ajudar os países a manter o status de moeda de reserva.
Considerações sobre moeda de reserva
Ao “concordar” em ter sua moeda usada como moeda de reserva, um país coloca as mãos nas costas. Para manter a inflação doméstica. Quanto mais popular for a moeda de reserva em relação a outras moedas, maior será sua taxa de câmbio e menos competitivas se tornam as indústrias exportadoras domésticas. Isso causa um déficit comercial para o país emissor da moeda, mas deixa o mundo feliz. Se o país da moeda de reserva decidir se concentrar na política monetária doméstica, não emitindo mais moeda, o mundo ficará infeliz.
Paradoxo da moeda de reserva
Tornar-se uma moeda de reserva apresenta um paradoxo aos países. Eles querem o empréstimo “sem juros” gerado pela venda de moeda a governos estrangeiros e precisam ser capazes de levantar capital rapidamente devido à alta demanda por títulos denominados em moeda de reserva. Ao mesmo tempo, querem poder usar o capital e a política monetária para garantir que as indústrias domésticas sejam competitivas no mercado mundial e para que a economia doméstica seja saudável e não apresente grandes déficits comerciais. Infelizmente, essas duas ideias – fontes baratas de capital e balanças comerciais positivas – geralmente não podem acontecer ao mesmo tempo.
Este é o dilema de Triffin, em homenagem a Robert Triffin, um economista que escreveu sobre a iminente desgraça do sistema de Bretton Woods em seu livro de 1960,Gold and the Dollar Crisis: The Future of Convertibility. Ele ressaltou que os anos injetando dólares na economia mundial por meio de programas do pós-guerra, como o Plano Marshall, estavam tornando cada vez mais difícil manter o padrão ouro. O país tinha que conseguir isso instilando confiança internacional por meio de um superávit em conta corrente, ao mesmo tempo em que tinha um déficit em conta corrente ao fornecer acesso imediato ao ouro.1
A emissão de uma moeda de reserva significa que a política monetária não é mais uma questão apenas doméstica – é internacional. Os governos precisam equilibrar o desejo de manter o desemprego baixo e o crescimento econômico estável com sua responsabilidade de tomar decisões monetárias que beneficiem outros países. O status de moeda de reserva é, portanto, uma ameaça à soberania nacional.
Outra moeda de reserva
O que aconteceria se outra moeda, como o yuan da China, se tornasse a moeda de reserva preferida do mundo? O dólar provavelmente se depreciaria em relação a outras moedas, o que poderia impulsionar as exportações e reduzir o déficit comercial. O maior problema, entretanto, seria um aumento nos custos de empréstimos à medida que a demanda por um fluxo constante de dólares diminuía, o que poderia ter um impacto severo sobre a capacidade dos EUA de pagar sua dívida ou de financiar programas domésticos. A China, por outro lado, terá que modernizar rapidamente seu sistema financeiro, há muito lamentado por proteger suas indústrias voltadas para a exportação, por meio da manipulação de moeda. A demanda por conversibilidade em yuans significa que o banco central da China teria que relaxar as regulamentações relacionadas aos títulos denominados em yuans.
Novo Sistema Monetário Internacional
Há outra possibilidade de reduzir as pressões que os países enfrentam ao tentar manter o status de moeda de reserva: um novo sistema monetário internacional – uma ideia que surgiu por várias décadas como uma solução potencial. Uma possibilidade é o direito de saque especial, um tipo de ativo de reserva mantido por uma instituição global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Embora não seja uma moeda, ela representa uma reivindicação de outros países sobre ativos em moeda estrangeira. Uma ideia mais radical seria criar uma moeda global, conceito impulsionado por John Maynard Keynes, com um valor baseado no ouro ou nas mecanizações de um banco central global. Esta é provavelmente a solução mais complexa disponível e apresenta problemas relacionados à soberania, estabilidade e administração. Afinal, como você pode responsabilizar uma organização que é voluntária?
The Bottom Line
No curto prazo, a perspectiva de uma moeda de reserva substituindo o dólar é quase nula. Apesar dos problemas econômicos e políticos que os Estados Unidos enfrentam, seu status de “porto seguro” é difícil de derrotar, especialmente à luz da situação difícil do euro. É difícil analisar o que exatamente aconteceria se o dólar fosse ultrapassado por outra moeda, e é igualmente difícil prever o que as medidas orçamentárias e de austeridade na Europa e nos Estados Unidos farão pela economia global nos próximos anos.